Diretor de escola pública brasileira concorre ao prêmio Nobel da Educação
O projeto de Diego Mahfouz Faria Lima, diretor da Escola Municipal Darcy Ribeiro, localizada em São José do Rio Preto-SP, foi selecionado como exemplo de educação. Não é a primeira vez que um brasileiro participa da premiação, em 2017 tivemos entre os dez finalistas o professor Wemerson da Silva Nogueira, do Espírito Santo.
O prêmio
Organizado pela Varkey Foundation, a premiação é conhecida como o Nobel da Educação. O vencedor de 2018 receberá US$ 1 milhão (aproximadamente R$ 3,3 milhões) e por um ano atuará como embaixador para a fundação. O critério de escolha vai além do trabalho feito em sala de aula e reconhece esforços do educador em prol da comunidade. O ganhador será anunciado em um evento de gala, durante o Global Education and Skills Forum, em Dubai, no próximo dia 18 de março.
A história da Escola Municipal Darcy Ribeiro
Localizada em uma comunidade carente, a Escola Municipal Darcy Ribeiro era reconhecida como uma escola violenta e com altas taxas de evasão, pela comunidade e alunos. Em 2014, quando assumiu o cargo de diretor, Diego adotou uma estratégia democrática, centrada na recuperação do espaço físico e engajamento de todos. Em entrevista à BBC Brasil, ele lembra que a escola chegou a registrar 60 suspensões por semana. Ao jornal O Globo, relatou que seu primeiro dia como diretor na Darcy Ribeiro não foi fácil. Não havia respeito, só revolta. Os estudantes se rebelaram contra sua presença, colocaram fogo no banheiro, jogaram maçãs, água e chegaram a virar cestos de lixo em cima dele, que respondeu às agressões dizendo que confiava nos alunos, e que não iria desistir deles.
Quais foram os maiores problemas encontrados e como o diretor conseguiu solucioná-los?
Ainda segundo a entrevista fornecida ao jornal O Globo, ao ouvir os alunos ele notou que as principais queixas eram sobre a escola ser muito punitiva, principalmente em relação às suspensões, que duravam às vezes 7 dias. Entendendo esse problema, reduziu as suspensões longas, mantendo os estudantes por mais tempo estudando.
A aparência da escola também incomodava os alunos. Depredada e pichada, não fornecia um ambiente estimulante. A solução encontrada foi recrutar os pais e responsáveis para ajudar a pintar voluntariamente.
Com isso, os alunos começaram a perceber o esforço que seus familiares fizeram para deixar a escola mais bonita, e passaram a conservá-la. Um dos pais se prontificou a passar com o carro de som nas ruas, divulgando as vagas e melhorias da escola.
Havia um muro nos limites da instituição, que era utilizado como ponto para consumo e tráfico de drogas. Para evitar o uso indiscriminado de entorpecentes dentro da escola, o diretor utilizou a cultura como arma e instalou prateleiras de livros no local, e este passou de ponto de drogas a Praça de Leitura.
O professor diz estar grato por suas ações terem ajudado a restabelecer a relação entre a comunidade e a escola, que venceu o ciclo das drogas com muita perseverança, sem jamais desistir.
Outro problema era o altíssimo número de evasões, cerca de 200 alunos por ano. Diego passou a se preocupar com a frequência de cada um, afinal, ninguém desiste da escola do dia para a noite, esse é um processo gradual. Com o intuito de evitar que as faltas levassem à evasão definitiva, ele criou uma carteira de frequência, com a qual consegue acompanhar cada aluno.
Quando alguém não vai à aula, o diretor pessoalmente vai até a casa do estudante, para perguntar o motivo da ausência, e manifestar que a escola sente falta dele. Em depoimento, um aluno alegou que faltava muito por medo das brigas que ocorriam pois, se tentasse separar “podia ser esfaqueado”. A violência da escola foi reduzida através da mediação de conflitos, convocando os alunos que estão em atrito para conversar e tentando mediar as discussões, ensinando sobre a importância de ouvir e compartilhar.
Diego cita também que havia um costume entre os estudantes de matar aulas às sextas-feiras. Para resolver essa situação ele novamente recorreu à comunidade, que colaborou na criação de oficinas e atividades extracurriculares gratuitas, tornando as sextas mais atrativas e diminuindo o número de faltas.
O reconhecimento
E se já estava feliz por ser eleito em 2015 o Educador do Ano, durante o prêmio Educador Nota 10, dado pela Fundação Victor Civita. Imagine a alegria do diretor ao ouvir, no dia 13 de fevereiro de 2017, o comunicado de ninguém menos que Bill Gates, fundador da Microsoft, sobre a sua classificação para o prêmio Global Teacher Prize, ficando entre os dez melhores professores do mundo.
Nós e todos os Brasileiros, estamos na torcida por Diego Mahfouz Faria Lima.
PS: O Diretor Diego, reafirmando sua vocação para a gestão moderna e diferenciada, implantou o URÂNIA em sua escola no início de 2018. Parabéns Diretor Diego e obrigado pela confiança.