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Como trabalhar a inclusão no ambiente escolar?

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18 de setembro de 2018

Como trabalhar a inclusão no ambiente escolar?

Entenda o cenário nacional de desigualdade

No Brasil, é comum encontrarmos estudantes que não gostam de ir à escola. Contudo, é preciso ter empatia para compreender que é muito difícil para um aluno se envolver com a Instituição de Ensino quando sente que não faz parte dela, pois as bibliotecas, paredes e os livros didáticos estão cheios de pessoas e eventos com os quais ele nem sempre se identifica.

O Brasil possui tanta diversidade que seria no mínimo um desperdício não apreciar toda a beleza que resulta dessa miscigenação. Por isso, o direito à aprender sobre várias culturas nas escolas é garantido por lei.  De acordo com as diretrizes da base nacional § 4º do Art. 26:

“O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia.”

Dessa forma, nossos jovens poderão conhecer e, principalmente, respeitar todas as histórias que se cruzaram e deram origem ao povo brasileiro.

Formas de desigualdade mais comuns em Instituições de Ensino

O preconceito e a desigualdade andam sempre lado a lado e com isso, as chamadas minorias, aquelas que não têm representatividade social, acabam se tornando vítimas da sociedade.

Essas desigualdades impactam diretamente no âmbito escolar, afinal, durante o crescimento, as crianças buscam por exemplos para seguir e, quando não encontram indivíduos com os quais se identificam, podem acabar se voltando para caminhos errados, como crer que precisam mudar sua natureza para serem aceitas.

Dessa forma, a desigualdade pode ser vista de várias formas, tais como:

Desigualdade racial

Foi originada durante colonização européia. Nessa senda, havia apenas uma maneira para enxergar a história: o eurocentrismo. Infelizmente, durante a colonização muitos povos vieram para cá exercer trabalho escravo, e suas culturas foram suprimidas. Mas, graças a vinda dessas pessoas que  atualmente no Brasil temos uma miscigenação incrível que conta com índios, negros, mulatos, pardos, europeus e orientais em um país com tamanho continental.

Felizmente — e possivelmente graças a internet e difusão do conhecimento — as minorias sociais passaram a ter cada vez mais espaço para expressarem a sua parte da história, como se sentem, o que aprenderam com suas vivências, como vivem e o que querem ensinar aos futuros cidadãos. Por isso é tão importante incluir a educação digital nas escolas e dar espaço para que todos os alunos aprendam por diferentes pontos de vista.

Desigualdade de gênero

A mulher recebeu o direito de estudar, e não é obrigada a dedicar-se exclusivamente ao lar. Mas mesmo com um nível maior de informação e escolaridade ainda recebem um salário inferior. De acordo com o artigo da Editora Abril:

“Segundo o IBGE, as mulheres ganham 25,5% a menos do que os homens. Essa diferença é ainda maior quando se compara apenas homens e mulheres com nível superior: Segundo a OCDE o salário médio das brasileiras diplomadas corresponde a 62% da renda mensal dos homens com o mesmo nível de escolaridade.”

Muitas dessas brasileiras ainda enfrentam jornadas duplas. Ou seja, elas acabam trabalhando com os cuidados no que tange à família e o lar, além de trabalhar fora de casa, e no fim do mês recebem menos que os homens. Por isso, para o Governo ainda é preciso tomar medidas nesse sentido com o intuito de igualar essa diferença salarial. Afinal, como as escolas podem motivar as mulheres a estudarem e se esforçarem para competir no mercado de trabalho, se o simples fato de serem mulheres lhe garante essa desigualdade salarial?

E por falar em gênero, em 2018, com o intuito de evitar a evasão escolar de alunos transsexuais que se sentiam constrangidos ao serem chamados por seu nome de registro, o governo brasileiro regulamentou o uso do Nome Social. Os estudantes que emitirem esse documento recebem o direito de serem chamados pelo o nome correspondente ao gênero que escolherem. Você pode conferir mais informações sobre a nova legislação lendo este artigo.

Desigualdade sexual

A homossexualidade é uma questão de orientação sexual, que, por um equívoco, foi classificada por anos como desordem mental. De acordo com a reportagem da Revista Veja:

“No final do século XIX e início do XX, a psiquiatria e a psicologia foram atrás dos homossexuais acreditando que o comportamento era um desvio de norma ou problema mental. Mas isso foi um erro. Mas em 1952, a primeira versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mentais (DSM), classificou a homossexualidade como uma desordem.”

Alexandre Saadeh, psiquiatra e coordenador do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual, do Hospital das Clínicas, em São Paulo.

Por isso é de fundamental importância para todas as escolas ensinar que esse comportamento não é uma doença. Combatendo qualquer foco de preconceito.

Desigualdade social

Segundo a pesquisa realizada pela ONU em 2011, à respeito do tema no mundo, dentre os 187 países participantes, o Brasil alcançou a 84ª posição. Ou seja, de acordo com os dados, nosso país é um dos que mais apresenta desigualdade. Esse fato deve-se às formas como as relações sociais brasileiras são permeadas: por vinculações de dominação de classes sociais, nas quais uma pequena fatia detém o poder financeiro e o resto submete-se a trabalhos em busca de renda.

E, apesar dos esforços governamentais para atuar na redução dos níveis de pobreza extrema nos últimos anos, ainda é grande a distância entre as camadas sociais mais abastadas e o contingente populacional que vive à margem da sociedade, sem acesso aos direitos humanos mais básicos.

Uma criança que não recebe o mínimo em casa: segurança, alimentação e afeto, não tem a mesma estrutura psicológica de outra que recebe tudo isso. Obviamente todos esses fatores acabam impactando na qualidade de aprendizado do aluno. Além disso, a violência pode abalar psicologicamente os estudantes e reduzir ainda mais o seu desempenho.

Considerando o contexto brasileiro de ampla desigualdade, será que a igualdade na educação pode ser obtida dando a todos a mesma coisa? Ou deve ser alcançada dando a aqueles que necessitam o que precisam para igualar o nível e alcançar o mesmo resultado dos colegas? Para responder essas perguntas, recorremos a um exemplo de outro país, a Austrália.

No ano 2000 os alunos receberam uma nota baixa no PISA, o que levou o país a recorrer a todos os tipos de iniciativas de financiamento a aumentarem a participação das disciplinas de ciências, matemática e tecnologia nas escolas, para fazer com que as crianças de baixa renda conseguissem acompanhar o nível internacional.

Entretanto, essa medida criou um grande gasto governamental. Para sanar esse problema, em 2016, o governo australiano buscou um modelo de igualdade educacional onde todos os alunos teriam o mesmo benefício. De acordo com a professora Misty Adoniou, esse é um grande erro, como ela explica no artigo sobre o tema:

“Se alguém em uma sala estiver tendo um ataque cardíaco, nós não administramos RCP a todos apenas para sermos justos; nós damos a intervenção do especialista para a pessoa que precisa. Portanto, é difícil entender por que esse modelo de “dar a todos o mesmo” é tão vigorosamente buscado na educação, particularmente quando parece ter sido espetacularmente malsucedido ao longo dos anos.”

Ou seja, de acordo com a experiência da Austrália, investir em cotas e bolsas para tentar equilibrar as desigualdades sociais pode ser um caminho válido para evitarmos a desigualdade.

Qual a solução para o problema?

Todos os estudantes, independente da classe social, raça, gênero ou sexualidade são alunos altamente competentes. Por isso, o entendimento dos diferentes tipos de inteligência e respeito a diversidade deve ser o ponto de partida para sua instrução escolar.

Manter um ambiente escolar que contemple toda a diversidade brasileira é um forma de mostrar todas as possibilidades – culturais, religiosas, etc. – e que o ponto principal é o respeito. Muitas vezes o desconhecimento gera o preconceito e a desigualdade. Então, é fundamental munir nossos jovens de toda informação necessária para a formação de seu caráter.

Vivemos um momento em que todos expõem suas opiniões e as carregam como se fosse verdade absoluta. Esse tipo de comportamento rígido gera radicalismo, que se mostra através do preconceito e da violência. Temos que ser mais tolerantes e ensinar as futuras gerações a entender que não somos, e nem devemos ser todos iguais, mas sim, todos temos os mesmos direitos.

No entanto, este tipo de ensino requer professores com habilidades culturalmente responsivas.

Ao concluir o ensino superior, muitas vezes o professor não está pronto para lidar com todas as diversidades que uma sala pode oferecer. Por isso, o ponto de partida deve ser o desenvolvimento desses profissionais, especificamente no ensino e no planejamento de currículos culturalmente responsivos.

Sugestões de livros e artigo sobre o tema:

Separamos uma lista com artigos e livros sobre o tema para ampliar o seu conhecimento. Confira nossa seleção:

Livro: Desigualdades raciais, racismo e políticas públicas 120 anos após a abolição, por Ipea.

O livro, que está disponível na íntegra gratuitamente na site do Ipea, traz análises inéditas sobre a política de cotas brasileira e sobre os números dos censos e Pnads desde 1890 que confirmam que a população brasileira volta em 2007 a ser de maioria negra como fora no primeiro registro oficial confiável, de 1890.

Livro: Orgulho e preconceito, por Jane Austen.

Neste livro a escritora do século 19, propõe reflexões sobre o papel das mulheres na sociedade e sobre como o machismo é prejudicial para todos. Apesar de escrito há mais de um século, não pense que o livro é cansativo ou atrasado: Austen propõe uma leitura fluida e ainda muito atual sobre o protagonismo feminino.

Livro: A riqueza de poucos beneficia todos nós? Por Zygmunt Bauman. 

Nesta obra Bauman analisa as premissas que sustentam a convicção de que a riqueza de poucos beneficia todos nós, desvendando as falácias que se ocultam por trás dela. Ao mesmo tempo ele mostra como o individualismo do mundo de consumo é a ideologia que justifica o enriquecimento sem freios dos já muito ricos, apresentando como estratégia de vida o modelo das celebridades.

Artigo: Desigualdade social na escola por Viviane Lima da Navas e Maria Helena Rodrigues Navas Zamora.

O objetivo central da pesquisa foi investigar o impacto da desigualdade na permanência escolar de estudantes, em sua maioria de origem popular, em uma escola federal de ensino médio/técnico da cidade do Rio de Janeiro.

Gostou do artigo? Tem alguma sugestão para reduzir a desigualdade? Deixe aqui embaixo nos comentários.